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27 de jan. de 2008

Laudas das oficinas

"Do Manifesto neoconcreto a internet 2.0 - Um rápido olhar sobre 6 décadas de arte brasileira" - Raul Mourão

Por Raul Mourão

5 de março, 18 horas, Rio de Janeiro, quarta-feira, instalações do SESC Tijuca. Sou interpelado pelo segurança na entrada do complexo cultural-esportivo, afirmo que ministrarei uma oficina de artes plásticas na sala de video. Ele me pergunta se conheço o caminho, respondo negativamente e escuto suas orientações. No lugar do elevador prefiro subir as escadas.

Geringonça já está no campo, Mona em cima, o jogo vai começar, o publico é mais numeroso do que imaginava, ligo o computador no video-projetor e no amplificador. Imagem e som funcionando. A bola vai rolar.

As próximas horas passam rápido. Uma seleção de imagens dos trabalhos, alguns videos, uma publicação em processo, muito papo, muita conversa. Ao fim cada aluno da oficina apresenta nome, profissão, e por que se inscreveu. Estudantes e profissionais de arte plásticas formam a maioria. Boa surpresa.

Nas duas quartas seguintes a idéia é Investigar a arte brasileira. Do manifesto neoconcreto a internet 2.0. Refletir sobre a formação do circuito de arte tal qual nós conhecemos hoje. Analisar os principais movimentos, os artistas, as transformações do mercado, as instituições, as grandes exposições, os textos críticos, manifestos e publicações.


Anos 50: O nascimento da Bienal de São Paulo, exposição e manifesto do grupo Ruptura, Museu de Imagens do Inconsciente, revista Noigandres, Grupo Frente, Unilabor, Cinemateca Brasileira, Primeira Exposição Nacional de Arte Concreta no MAM-SP e MAM-RJ, Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, Manifesto Concretista, MAM-RJ, Manifesto Neoconcreto, Congresso Internacional Extraordinário de Críticos de Arte
Anos 60: Cinema Novo, fundação de Brasília, as primeiras galerias, ESDI, Opinião 65, revista Realidade, Grupo Rex, Nova Objetividade Brasileira, Tropicália, o Museu de Arte de São Paulo, Salão da Bússola, MAM-SP / Panorama da Arte Atual Brasileira, HO em Londres, O Pasquim
Anos 70: Escola Brasil, Information, Domingos da Criação, Revista Navilouca, Revista Malasartes, FUNARTE, Escola de Artes Visuais do Parque Lage, Sala Experimental no MAM-RJ, Nova Objetividade, incêndio MAM-RJ

Anos 80: Como vai você Geração 80?, Revista Gávea, Casa 7, Paço Imperial, Revista Guia das Artes e Galeria, A Moreninha, Modernidade - Arte Brasileira do Século XX, no Museu de Arte Moderna (Paris), Brazilian Projects, P.S.1, Centro Cultural Banco do Brasil (Rio), Instituto Cultural Itaú e o Memorial da América Latina (SP)
Anos 90: Os Mágicos da Terra (Paris), MTv, Cildo Meireles, José Resende, Jac Leirner e Waltercio Caldas IX Documenta de Kassel, Torreão, Salão MAM-Bahia, Arte/Cidade, MuBE, Nuno e Bispo em Veneza, MAC Niterói, Museu de Arte da Pampulha, Centro de Artes Hélio Oiticica, X Documenta de Kassel Lygia Clark, Hélio Oiticica e Tunga, performance de Cabelo, XCVII Bienal de Veneza: Jac Leirner e Waltercio Caldas, MAMAM, I Bienal do Mercosul, Instituto Moreira Salles, Retrospectiva de Cildo Meireles no New Museum, Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura em Fortaleza, Alpendre - Casa de Arte, AGORA, as feiras internacionais se consagram como o principal acontecimento do mercado,
Anos 00: Brasil + 500 - Mostra do Redescobrimento, projeto Orlândia, os coletivos de artista, o espaço cada vez maior no circuito internacional, a revolução digital, a Bienal do Vazio e do Calote

26 de março, 17h30, Rio, centro da cidade, quarta-feira, Metrô. Estou na estação Carioca. A plataforma de embarque sentido Zona Norte está cheia, o trem chega lotado, impossível embarcar. Volto a superfície em busca de um taxi mas todos passam lotado. Decido seguir até um ponto da Rua Uruguaiana. Ao chegar lá me deparo com uma longa fila. Já são 17h45, a melhor opção é andar até a central para pegar o metrô mais vazio. Estou subindo as escadas da estação Saens Peña quando o celular toca. É Ana Paula (5 estrelas) cobrando minha posição. Hoje é dia de atividade prática. Passo a bola para a turma. Em 3 horas será produzido um trabalho coletivo. No lugar de tintas e pincéis usaremos fitas adesivas coloridas para definir áreas de cor em folhas de papel duplex. Cada folha será dividida em 8 partes. Cada unidade agora fará parte de uma nova composição.

Quarta, 27 de março é o dia de Debora Monnetrat comentar o encontro e analisar a produção. Uma mesa-redonda com divagações poéticas e filosóficas para encerrar a oficina.

O espírito Geringonça prevaleceu. Ao longo de 5 dias conversamos bastante de artes plásticas mas também passeamos pelo cinema, literatura, música, teatro, dança, política cultural e outras coisas mais. Uma troca de idéias rica e intensa.

Por Débora Monnerat

Novo Mundo

Do manifesto neoconcreto à internet 2.0 é o título da oficina realizada por Raul Mourão para o projeto Geringonça, do SESC-Tijuca. O título sugere algumas (e não poucas) reflexões sobre a forma como a vida e a arte brasileira caminharam desde meados da década de 1950 até os dias de hoje. Neste percurso, constatamos uma série de mudanças que envolvem todo o universo de artistas, obras, ações, profissionais e instituições que compõem o que chamamos de campo da arte.

Entre tantos caminhos a percorrer, é interessante notar como o desenvolvimento da internet, que se inicia na década de 1950, a partir de uma necessidade militar, acaba gerando um instrumento poderoso e democrático na aproximação de seres e culturas, vencendo, muitas vezes, a distância imposta pela segregação econômica e social. A internet 2.0, a web feita pelos próprios internautas, possibilita, hoje, não só a troca de informações, mas a criação coletiva, reunindo pessoas de diferentes culturas, trazendo liberdade e velocidade para o desenvolvimento do pensamento mundial. Ao viabilizar a veiculação e a troca de idéias e, conseqüentemente, de trabalhos, a internet 2.0 confere mais independência ao artista contemporâneo, permitindo que ele se comunique sem a intermediação institucional, por exemplo. É, certamente, um sistema que viabiliza um fluxo constante e livre de pensamento, aproximando pessoas numa rede de relacionamentos que, se bem aproveitada, torna-se um veículo de comunicação, educação e progresso para a humanidade.

Podemos dizer que este caminho aberto pela internet 2.0 parece construir-se como uma rua que, aos poucos, é habitada por aqueles que estão em sintonia, compartilhando determinadas afinidades. E cada novo espaço construído coletivamente gera outros caminhos, outras ruas, rumos e sociedades.

Dentro deste universo, encontra-se o artista contemporâneo que transita nesta espécie de “Novo Mundo” como quem busca viver e entender mais o seu tempo. Raul Mourão é um destes artistas, que colhem a poesia da hora nas situações e personagens do cotidiano - não importa se estes surgem na esquina mais próxima, nos noticiários da TV ou nas comunidades da internet 2.0.

Raul Mourão parece redesenhar o mundo sobre o próprio mundo. Recorta um pedaço e o reconstrói dentro de sua própria linguagem. Não tira, nem bota. Redesenha o mundo para falar dele, lidar com ele, viver nele.

Mourão é um cronista, que se insere na vida e a descreve, subverte a lógica e a reordena. O artista transita pela rua que ele procura, observa, descobre, edita e deseja. Mas ao lidar com este recorte, ele revela a incessante fluidez, movimentação e inegável independência da vida, que se apresenta como um organismo muito peculiar, no qual nos inserimos e atuamos. Nesta sua ficção, ele nos convoca a ver a realidade. Ao criar um mundo próprio com as suas obras, o artista traz a realidade à tona.

Certa vez, eu sonhei com Raul Mourão. Ele se encontrava num espaço totalmente preto, regido por uma dimensão outra, não vivida por nós. Ali não havia descontinuidade, limites, retas, divisões, luz, cor. Talvez por isso, fosse melhor nomeá-lo como um “não-espaço”. Dentro desta situação, encontrava-se o artista e a sua obra – uma de suas esculturas feitas a partir de uma situação ou área do campo de futebol. As linhas brancas da escultura destacavam-se naquela ambiência. Ao acordar, lembrei-me do sonho e também de Dogville, o filme de Lars von Trier. A recordação das linhas brancas sobre o fundo infinito da história de Trier, me ajudou a perceber que o sonho apontava para o espaço da arte. Era como se eu estivesse no campo fundado pelo artista, através de sua obra. Creio que toda arte refunda o mundo de cada um que com ela se relaciona - que a vê e não apenas olha. E, neste sentido, refunda o mundo externo também. Como no sonho, é a obra que dá orientação ao que a rodeia e não o contrário. O convite ao exercício do olhar é um dos convites da arte, através do qual desenvolvemos nossa sensibilidade, nosso ser e nos tornamos mais livres e lúcidos.


Rio de Janeiro, 13 de abril de 2008

Um comentário:

Anônimo disse...

Gostei muito,meus parabéns!
Rosane Chonchol
www.aftercontemporary.blogspot.com/