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27 de jan. de 2008

"Intervenções Sesquianas" - Cristina Ribas

"Intervenções Sesquianas" - Cristina Ribas

Por Cristina Ribas

Em Junho de 2007 realizamos uma oficina de “intervenção urbana” a convite do Projeto Geringonça, sediado no SESC Tijuca no Rio de Janeiro. A oficina foi coordenada praticamente a “seis mãos” por três artistas visuais: Luis Parras, Cristina Ribas e Nadam Guerra. O Objetivo primeiro do projeto era trazer ao grupo participante da Oficina idéias acerca da prática artística no espaço urbano, ou no espaço público. Este tipo de produção pode ser confundida com algumas produções classificadas por “arte pública”, e é claro que há contaminações entre tais práticas. A intervenção urbana não chega a ser uma “técnica” específica nas artes atuais, mas é fato que podemos encontrar esta forma de coletivização da arte em diversos grupos e artistas ao longo da história da arte, principalmente do Século XX. O aporte teórico da oficina partiu, portanto, desta breve distinção: entre a arte monumental urbana, feita para durar e permanecer no tempo, e a efemeridade de muitas ações contemporâneas, que dialogam com a velocidade das cidades, dos seus fluxos e das realidades corporais de seus habitantes. A Oficina de intervenção urbana foi, sobretudo, prática: em todas as aulas vivenciamos o espaço físico da sede do SESC Tijuca como nosso “sítio específico” a partir de onde poderiam surgir os projetos de intervenção plástica, considerando aspectos espaciais e características diversas do local, seus usos e freqüentadores. Em cinco aulas (considerando a última como a apresentação das intervenções a público no evento do Projeto Geringonça), os alunos equacionaram suas referências pessoais (dado que a maioria tem experiência com criação artística) com aspectos do local, experimentando a partir da improvisação de materiais novos desenhos, percursos e sentidos para os nichos, passagens, escadas, muros. Coletivamente surgiu o termo que nomeou nosso texto coletivo, escrito ao final da oficina “,vestígios, armadilhas,”: “Intervenções Sesquianas” (assim com uma vírgula antes do título, mesmo!). Todos os trabalhos foram realizados dentro do espaço físico do SESC, e apresentados no dia do evento do Projeto Geringonça. Repensando o “urbano” e o específico (neste caso as intervenções “sesquianas”) impossível dissociar o caráter investigativo das condições do local (o que pode ser tomado como “antropológico” por alguns) da criação para locais específicos, o que é certamente considerado como ferramenta conceitual para diversos artistas e coletivos contemporâneos ao tratar de intervenções urbanas.

O espaço do SESC e seus fluxos foram então o espaço criativo deste grupo híbrido e interessado de cerca de 15 pessoas, dedicado à vivência artística num especial recorte da vida cotidiana, que torna-se único porque difere da vida, coletiviza sentidos, e retorna a cada um dos corpos que vivenciam a prática artística, seja como criador ou como participante.

Por Roberto Conduru

Cidade sobre Cidade

Arte e Intervenção Urbana no SESC Tijuca O ambiente físico do SESC Tijuca, no Rio de Janeiro, é em si mesmo uma cidade. Com seus pórticos, caminhos, escadas, espaços livres, jardins e edificações de diferentes tempos, que abrigam diferentes atividades ligadas a diversos aspectos da vida humana (cultura, esporte, saúde, administração) se constitui como uma mini-cidade. Nela pode ser entrevista uma paisagem urbana, com suas regiões, bairros, praças, largos, ladeiras, bosques, construções mais ou menos antigas. Em verdade, parece ser uma vila algo idílica, pois embora tenha configuração plástica e funcional complexa, cheia de meandros e surpresas, não tem muitos dos problemas vividos nas metrópoles brasileiras hoje.

Contudo, como cidade na cidade, exige dos artistas da oficina de intervenção urbana um enfrentamento duplamente reflexivo. Não apenas a reflexão própria à arte, derivada de seu estar e não-estar no mundo, de sua relação esquiva, problemática, com o real. Mas, também, a reflexão possível em um lugar um tanto a parte do caos urbano contemporâneo. Assim, cada intervenção deve tentar ser mais do que uma experiência de laboratório para alcançar a condição de meta intervenção urbana.

No conjunto construído, arquitetura e paisagem dialogam com a topografia e os elementos pré-existentes, deles se valem, os potencializam: jogam entre si, com eles e com as pessoas que os freqüentam, os convidando a habitá-las. O que desafia os artistas a entender a inteligência do lugar, com ela lidar, testando-a e indo além. Com efeito, as intervenções realizadas pelos artistas da oficina estabelecem diferentes diálogos com o lugar físico e institucional do SESC Tijuca, desdobrando vertentes típicas da arte contemporânea. Variam os modos de jogo com o público, que é convidado a participar, a interagir e até mesmo a integrar algumas obras, pois sem as pessoas muitas propostas nem chegariam a se constituir. Há intervenções líricas, que pretendem sublinhar aspectos bucólicos de seus recantos, ou dimensões cômicas de seus elementos físicos. Outras optam por abordar questões culturais a partir da linguagem da arte: desde os atemporais sentidos humanos até as convenções e práticas sociais. E ensaios de crítica institucional, que remetem os espectadores a reflexões sobre o lugar em que estão situados, sobre os processos em que estão inseridos. Como conjunto, as várias intervenções reiteram a crença e as possibilidades abertas para o diálogo entre artes e cidade.

Roberto Conduru é doutor em História pela UFF, professor de História da Arte na UERJ e na PUC-Rio.

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