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27 de jan. de 2008

"Transitante: Intervenções urbano-espaciais" - Ana Holck e Pedro Engel

"Transitante: Intervenções urbano-espaciais" - Ana Holck e Pedro Engel

Por Ana Holck
Relatório

Primeira aula:
Foi dada uma palestra de abertura com apresentação de imagens (aproximadamente 100) falando sobre o desenvolvimento da arte no espaço, compreendendo o mesmo nas esferas privada e pública, incluindo tanto intervenções em espaços institucionais quanto espaços urbanos.
No final da aula dividi a turma em 4 grupos e fizemos o reconhecimento do território do SESC para o início do desenvolvimento das propostas de intervenção dos grupos.
Foi solicitado que cada indivíduo do grupo pensasse nas possibilidades de intervenção e que as trouxesse para discutir com o seu grupo na aula seguinte.

Segunda aula:
Início das discussões em grupos e atendimento de orientação a cada grupo. Os grupos se subdividiram um pouco.
Alguns grupos já estavam em processo mais elaborado do que outros. Foi solicitado para alguns grupos que trouxesse na terceira aula esboço e que fizessem pequenos testes de suas propostas para se ter uma idéia de como vai ficar e o que pode ser melhorado. Os grupos com desenvolvimento mais atrasado terão uma continuidade das discussões na terceira aula.
Por Pedro Engel

Encontrar palavras que narrem ricos encontros tentando recuperar o seu sentido é uma tarefa difícil. A fala composta por elas de saída deve resignar-se à distância que a separa dos acontecimentos de origem e assumir uma existência própria, quase autônoma, embora não completamente independente. O que liga estes dois momentos é talvez uma série de pequenas sedimentações que conseguiram persistir na memória e que hoje revelam o seu valor no poder de transformação da experiência sofrida.
A oficina “Transitante: Intervenções Urbano-Espaciais” reafirma o caráter espontâneo e exploratório das atividades propostas pelo Sesc Tijuca no contexto do projeto Geringonça. Como sugere Roberto Conduru, o Sesc pode ser visto como uma cidade em si mesmo, uma espécie de vila idílica dentro da cidade do Rio de Janeiro, ou talvez uma cidade-laboratório, onde experiências podem ser levadas a cabo tendo como meta um aprendizado sobre a prática de intervir no espaço urbano. Ao longo de cinco encontros, os participantes, reunidos em grupos, tiveram a oportunidade de propor e realizar intervenções que dialogavam com o espaço existente e com a realidade social e institucional do Sesc. Os patamares, recantos e passagens foram cenários de diversos embates e experimentações onde se fez necessário tecer diálogos e propor leituras que abrissem caminho para novos modos de se compreender o real e de transformá-lo. A negociação foi uma prática freqüente, mediando as constantes avaliações e revisões das possibilidades de realização dos trabalhos e das vontades divergentes ou complementares dentro de cada coletivo.
Ao longo dos dias, enquanto as propostas tomavam corpo, os olhares se faziam conscientes através dos diálogos e alguns conceitos eram aproximados com o propósito permitir que as manifestações espontâneas fossem sutilmente permeadas por uma prática reflexiva. Tendo como conceito chave a noção de inseparabilidade entre o trabalho proposto e o seu contexto de existência – dois âmbitos capazes de se potencializar mutuamente – as intervenções realizadas constituíram um fértil pretexto para se levantar questões sobre as possibilidades da arte na sua relação com o universo circundante. Este ciclo encerrou-se com uma discussão proposta pelo crítico convidado, Guilherme Bueno, onde se permitiu que os trabalhos pudessem ser observados à luz de questionamentos sobre as condições de existência da arte no contexto contemporâneo e seus pressupostos. Questionamentos que foram habilmente deixados em aberto.
Intervenção: luz vermelha no elevador

Partiu-se de uma proposta simples e potente: transformar o ambiente do elevador principal do Sesc através da instalação de luzes de cor vermelha. A simplicidade das falas, por sua vez, parecia tocar no cerne da questão: “seria como estar em um aquário: numa outra atmosfera”; ”queríamos criar um clima”. Para além do notável impacto visual causado pela incidência da luz sobre a superfície de aços escovado das paredes, a atmosfera vermelha terminou por provocar sensíveis deslocamentos de sentido e instalando, sensações, perturbações, falas e diferentes tipos de ligações imprevisíveis que afetavam a regularidade da experiência tão corriqueira de se tomar um elevador.

Intervenção sonora

Com o desejo de tomar emprestado da cidade uma certa potência perturbadora que reside nos ruídos urbanos – presenças por vezes invasivas – se propôs uma intervenção sonora que causasse uma breve interrupção no evento Amostra Grátis promovido pelo Sesc. Literalmente um sopro coletivo composto por buzinas, apitos, cornetas vindo de diversas direções e penetrando transversalmente no curso dos acontecimentos daquela noite. Sua efemeridade fez emergir a possibilidade de se cogitar o acontecimento, em que pesa a transitoriedade, como uma dimensão possível das ações de intervenção no espaço.

Intervenção: mico de mão em mão

As pretensões iniciais percorreram um caminho tortuoso até que se concretizasse a intervenção. Inicialmente partiu-se na direção de um estranhamento cômico propondo-se o agigantamento de um brinquedo infantil que transformaria o Sesc no grande cenário de um jogo. Dificuldades na sua realização impuseram o redirecionamento do trabalho levando à re-significação de um elemento já realizado: um macaco de espuma. Na nova proposta o “mico” era passado de mão em mão durante o evento Amostra Grátis, fazendo com que o participante, involuntariamente, se visse em posição de lidar com uma situação estranha.

Intervenção: criatura de luz sobre a clarabóia do restaurante

As falas iniciais pareciam impulsionadas pelo desejo de provocar uma inflexão no olhar. Por um lado, fazê-lo buscar a distância, trazer para dentro o que está o fora, tirar de prumo o ponto de vista habitual. Por outro, jogar com o sentido do seu objeto, transformar a qualidade do olhar por meio daquilo que é visto. A intervenção realizou-se com a instalação de um objeto insólito pairando no escuro sobre uma clarabóia no teto do restaurante do Sesc. O objeto era uma espécie de bicho-de-luz, um ser simples e inominável, tão fabuloso quanto precário. Na sua materialidade, constituída de plástico-bolha, lâmpadas fluorescentes e mangueiras de luz, trazia os traços de um improviso quase romântico e de uma promessa bem cumprida da re-significação do olhar cotidiano.
Por Guilherme Bueno

GERINGONÇA

Apesar do SESC-Tijuca corresponder apenas parcialmente ao que se poderia tomar como um espaço para intervenções urbanas, não deixa de ser entusiasmante o microcosmo que ele oferece. Em primeiro lugar, deve-se enfatizar: se ele não funciona de maneira tão randômica quanto à rua, isto não o faz menos vital como elemento da vida urbana: Basta testemunhar a impressionante circulação de diferentes pessoas e públicos em suas dependências, atraídos por atividades das mais variadas que ocorrem às vezes lado a lado (se alguém fosse descrever as dezenas de eventos que acontecem simultaneamente, tal convívio soaria para quem não o testemunhou senão insólito, improvável). Neste sentido, os desafios que ele pode oferecer aos participantes da oficina “Geringonça” é bastante rico, não só pela quantidade de situações estimuladas por tamanha diversidade, mas também os meios pelos quais nelas se pode intervir.
Os trabalhos produzidos pelos participantes da oficina (ministrada por Ana Holck e numa segunda etapa por Pedro Engel), jovens artistas, boa parte deles ainda em formação, ilustraram as soluções criativas despertadas pela proposta de agir em um contexto que, mesmo resguardado pela autoridade institucional, não deixou de revelar seu imenso potencial: no dia da apresentação das propostas, acontecidas em lugares ou situações tão discrepantes quanto o telhado de um corredor de lanchonete, a intervenção durante um show de rock / festival de cinema (!) ou ainda em um dos elevadores principais do edifício (e neles eu pude acompanhar inclusive reações das mais curiosas e interessantes), indicavam não só a compreensão de que agir no espaço “aberto” podia se dar através da exploração de linguagens diferentes (da produção de objetos à propostas imateriais ou apropriação da arquitetura) – isto é, não aprisionando a questão a um “meio” específico – mas ainda a ocasião de se pensar os lugares da arte, suas modalidades de se apresentar e se comunicar com o público. Pode-se, claro, relativizar, o quanto tal comunicação efetivamente acontece, e quais seriam os seus resultados. No entanto, eu vejo isto de um ponto de vista positivo e estimulante, na medida em que nos perguntamos sobre nossas próprias concepções de arte e se não estamos expostos a ocasião de debatê-la ou nela incorporar novas reflexões ou gerar novas propostas que escapem às regras e hábitos. Diria, inclusive: é esta zona, a qual ainda mais tateamos do que vemos que lhe garante um de seus aspectos mais interessantes, ao lidarmos com tipos de respostas para as quais não temos um cálculo prévio, tampouco assegurado (e por isso mesmo mais desafiador). É da natureza da arte colocar-nos em dúvida, e fazer-nos querer ir adiante estimulado por ela, convidando-nos a explorar novos caminhos e realizar novas descobertas. Neste aspecto, vejo a oficina como uma experiência mais do que bem sucedida, capaz de fomentar novos talentos, além de contribuir igualmente para a formação de um público de arte ampliado e diversificado.

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