TEMPOS TRANSURBANOS
Diante do fato de nossa percepção, a partir de um certo momento, não mais distinguir as noções de tempo daquelas de espaço, a compreensão que temos dos processos e fenômenos criativos também passaram por uma sutil revisão. Essa revisão tem sido motivada cada vez mais pelos caminhos que a arte contemporânea assumiu para si, sobretudo quando o espaço – e o tempo – da cidade passou a ser um campo de investigação para artistas, analistas e pesquisadores em geral, historiadores e afins.
Digo sobretudo porque, antes da cidade, já todo um inventário de objetos – esculturas, digamos – havia sido reformulado, em termos instrumentais, para a consecução de uma obra de arte. Restava seu campo mais ampliado: a paisagem, seja ela natural – o espaço da natureza que nos envolve – ou artificial – a própria cidade.
As intervenções urbanas, além da difusão e uso das mais diferentes mídias, em uso tático, são uma decorrência dessas constatações e fundamentam grande parte daquilo que se observa no universo das criações contemporâneas.
A oficina do SESC, sem dúvida, foi pautada pela investigação dessas possibilidades. Portanto, numa tentativa de abarcar essas diretrizes, foram comentados – e contrapostos, mas não por oposição – os trabalhos de alguns artistas significativos do modernismo e pós-modernismo para se rastrear os indícios desse campo de investigação atual. Balla e Dubuffet, por um lado, Basquiat e Banksy, por outro.
Quanto aos trabalhos surgidos no contexto da oficina, é importante observar que, de uma forma ou de outra, muito do que se comentou encontra-se em germe nas realizações dos artistas inscritos. A crítica cultural, problemas universais de linguagem, além do humor, seriam características daquilo que foi finalizado enquanto obras, espalhadas pelas redondezas do local. Parece um bom resultado. Diria melhor: um bom indício, sobretudo para aqueles que foram buscar, na oficina, dados e convivência capazes de fundamentar melhor o próprio foco de interesses.
O assunto é vasto. E suas possibilidades, inquantificáveis.
Luis Andrade / set 2008
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