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16 de mai. de 2009

Diário de bordo do Redemoinho Artístico Especial

Continuando os posts sobre o Redemoinho Artístico Especial, aí vai o "diário de bordo" que pedimos que os Novos Gatos do Trovão, grupo residente de abril, escrevessem relatando as atividades propostas e a experiência de se criar junto, misturando linguagens, filosofias e personalidades.
Diário de Bordo
Considerações preliminares

A proposta do Redemoinho Especial é uma mostra coletiva a ser executada na última reunião de cada mês, vinda de um processo de criação coletivo que se desenrole nas três reuniões que antecedem à última – que é a quarta, pois as reuniões são semanais. O Redemoinho Especial vem, assim, com a pretensão de impulsionar ainda mais uma mistura entre experiências éticas e estéticas, bem como competências técnicas, dos artistas que freqüentam o Redemoinho tradicional. Decidiu-se instituir, pelas possibilidades técnicas de auxílio à execução da mostra coletiva e também pela flexibilidade de diálogo com outras linguagens artísticas, uma “banda residente” para mediar o 1º Redemoinho Especial, em abril de 2009. Após uma seletiva via internet, os “Novos gatos do trovão” foram designados para esse papel residente de mediadores.
Relatório de atividades
O que ocorreu durante as reuniões desse 1º Redemoinho Especial pode ser dividido em cinco etapas, respectivamente superadas em seis reuniões – consideramos que o último encontro do Redemoinho Artístico de março acabou se transformando efetivamente no ponta-pé inicial do 1° Redemoinho Especial de abril e, além disso, ganhou-se mais uma reunião em abril antes da mostra coletiva. Porém, cabe ressaltar que todos os encontros semanais mantiveram em 50% a estrutura do que era o Redemoinho Artístico tradicional – inclusive a própria mostra coletiva, mas de um modo bem peculiar, que será descrito mais tarde -: a primeira metade de cada uma das reuniões foi dedicada à apresentação pessoal dos artistas que compareceram e de seus trabalhos individuais; nesse momento, a banda residente aproveitava para tomar conhecimento daquelas mencionadas experiências éticas e estéticas, bem como competências técnicas, desses mesmos artistas que compareceram, a fim de preparar a mostra coletiva do 1º Redemoinho Especial. Finalmente, sempre após essa primeira metade das reuniões, o caráter especial do novo Redemoinho era explicitado pela banda residente.
- Discussão de bases conceituais e metodológicas – 1ª etapa: Na última reunião de março, houve um debate intenso sobre como era desejável nesse 1º Redemoinho Especial que se organizasse uma mostra coletiva, tendo em vista as opções artísticas peculiares da banda residente e dos demais artistas presentes. Ficaram acordados alguns pressupostos: a banda residente pretendia se colocar numa posição de mediação genuína, o que significava que suas canções não deveriam conduzir a mostra e nem ser o ponto de partida para o acoplamento temático ou técnico dos trabalhos dos artistas que compareceram; o improviso artístico e o risco performático decorrente foram estabelecidos como motes éticos e estéticos, por juízos que agrupavam tanto uma peculiar concepção do mundo atual quanto pela constatação de que o tempo de preparação, de apenas um mês, adaptava-se melhor a esse tipo de interação artística; enfim, discutiram-se várias medidas práticas para abrir o máximo de espaço democrático na mostra, no que concerne a uma perspectiva interna da operação entre os próprios artistas e também a uma perspectiva externa de sua operação com o público.
- Interação artística “livre” – 2ª etapa: Na primeira reunião de abril, a banda residente estimulou uma longa sessão “jam”, em que todos os presentes participaram, utilizando-se ora de inspirações espontâneas ora de fragmentos de obras que já trouxeram prontas. O objetivo era liberar amarras de timidez na interação e averiguar como e em que medida era possível para aquele grupo específico encontrar uma atividade coletiva fluida.
- Estruturação do evento e ensaios – 3ª etapa: Nas três reuniões seguintes, houve um processo simultâneo de criação da fôrma mínima da mostra coletiva e de ensaios para executá-la. Decidiu-se por dividir o evento em duas partes principais, além da abertura, do meio e do encerramento: a primeira parte foi definida rigidamente, alternando-se performances, declamação de poesia e música – essas linguagens foram as mais utilizadas pelos presentes -, numa seqüência planejada e que privilegia os artistas mais assíduos às reuniões e que, portanto, tiveram uma integração maior com o Redemoinho Especial – uma seleção que envolve tanto um critério prático, quanto outro de merecimento; a segunda parte foi deixada absolutamente flexível, em que qualquer pessoa que esteja assistindo ao evento possa participar com o que quer que queira expor, seguindo o molde do Redemoinho Artístico tradicional; o “meio”, obviamente, divide as duas partes principais e foi decidido que será uma longa sessão “jam”, tanto para reproduzir a liberdade da experiência da 2ª etapa das reuniões do Redemoinho Especial, quanto a fim de preparar o terreno para a flexibilidade da segunda parte do próprio evento; enfim, a abertura e o fechamento foram pensadas como maneiras teatralizadas de dar o caráter solene da reunião culminante desse Redemoinho Especial, que continua sendo mostra, interação, mas é também uma obra coletiva única.
- Mostra coletiva – 5ª etapa: O espaço era uma arena invertida ao ar livre, localizada no pátio tangente ao restaurante do SESC. A disposição dos artistas na circunferência era demarcada, sem assentos, pela presença de vários instrumentos musicais, principalmente percussivos – desses, apenas os violões e um microfone sem fio estavam conectados ao sistema de sonorização do evento -; já a disposição do público no círculo era sinalizada pela colocação de cadeiras de plástico e almofadas no chão; no centro de tudo, havia um pedestal com um microfone com fio. A ação começou às 19h15min, quando os artistas chegaram ao pátio cantando os primeiros versos da canção “Roda Viva” (Chico Buarque) e empunhando pedaços de tecido, que foram usados para fazer contato físico com o público disperso pelo pátio e trazê-lo para as cadeiras e almofadas do círculo; após “arrebanhar” o público, os artistas tomaram posições e instrumentos na circunferência, enquanto, imediatamente ao silêncio dos versos da canção, seguiu-se uma vídeo-performance que repetia incessantemente, e em várias entonações, “seja bem-vindo”; logo após, ao passo em que emudecia a vídeo-performance, a circunferência iniciou um número musical coletivo, que cercou paulatinamente o público de sons... um redemoinho sonoro; alternaram-se, então, também sem interrupções de qualquer natureza – nenhuma mediação formal, nem apresentações biográficas pessoais, sequer nomes –, declamações de poesia, performances teatrais, canções e música instrumental, a partir individualmente dos artistas situados na circunferência, numa seqüência planejada que terminou com a sessão “jam”, essa a partir coletivamente de todos os artistas referidos antes; finalizada a “jam”, o evento foi apresentado e resumidamente explicado no microfone central por um dos membros da banda residente, que fez, assim, esse microfone central aberto às manifestações artísticas, primeiramente, do público no círculo e, posteriormente, das manifestações pessoalizadas dos artistas da circunferência que o quiseram – com a possibilidade de introduzir com informações biográficas e de divulgação os seus trabalhos – ou seja, uma parte toda formalmente cheia de interrupções, mas imprevisível; por último, às 20:45, um membro da banda residente retornou ao microfone central, indicou com os agradecimentos devidos o fim do 1º Redemoinho Especial e chamou os artistas da circunferência ao entorno direto desse microfone, eles se fecharam em uma circunferência bem menor, com o público dessa vez no seu exterior, começaram a cantar aqueles primeiros versos de “Roda Viva”, cada vez mais rapidamente, até que se gritou que estava finalizado o 1º Redemoinho Especial... o público estava, assim, liberto.
Considerações finais
Alguém, numa rápida reunião realizada logo após o final dos trabalhos da mostra, disse que o troca-troca de instrumentos, o microfone central aberto e a atmosfera estimulada pela “Jam” – que acabou sendo constante, sob a forma de intervenções respeitosas de todos nas participações individuais – fizeram-no sentir prazerosamente como uma criança, e houve concordância geral. É o objetivo, sim, provocar democraticamente liberdade e proteção extremas... Isso é a sensação da infância, não? Mas se espera que esse diário de bordo mostre que a utopia da infância adulta requer ordem para ser estetizada, um “contra-caos” mínimo que seja, ou vira bagunça e, aí, não é mais infância, é infantilidade, não é pura, é pueril. Tentar executar qualquer coisa nessa corda-bamba é talvez o maior desafio da contemporaneidade e o mesmo dilema tem suas traduções na política, na economia, na filosofia, na ciência e na arte. Não pode ser mais um “revival” das vanguardas contra-hegemônicas dos anos 60, ora sob as rigidezes marxistas, ora sob as libertinagens “psicotropidélicas”, embora ninguém saiba nem por onde começar. A banda residente continua sem saber, mas agradece a pergunta do SESC e o nervosismo que ela trouxe.

Os Novos Gatos do Trovão
Abril/2009

Um comentário:

Felipe F. Gonçalves disse...

Toda a ideia e a realização dela foi algo bem mais transcendente e explosivo que se possa imaginar, só quem esteve no dia sentiu realmente o sabor que esse nova brincadeira e maneira de transbordar arte e criatividade realmente deixou.
Obrigado a todos que foram!! Especial ao yuri!